sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Meu herói partiu.

Dias dos pais, eu odeio esse dia, para mim é o pior dia do ano, hoje faz 2 anos desde que eu encontrei meu pai se contorcendo de dor  sobre a calçada fria, mas eu só me lembro de pequenas coisas desse dia, me lembro que quando o vi daquele jeito, apoiei meu corpo sobre o dele e gritava por socorro, mas nessa hora um cheiro forte invadiu minhas vias nasais e após isso lembro de estar em uma sala branca sentada em uma cadeira injetando soro na veia.
Mamãe estava do meu lado em estado de choque, ela tava paralisada olhando fixamente para uma porta.
 - Mãe, papai está lá dentro?
 - Sim, disse ela entre dentes.
 - Ele está bem?
 Ela passou seus braços gelados em volta de mim e as lágrimas começaram a tomar conta de seus olhos, ela não precisava falar mais nada eu havia entendido o que estava acontecendo.
Os dias iam se passando e ir para aquele hospital já estava na minha rotina, de manhã eu ia para a escola e depois passava o resto do meu dia enfiada naquele hospital ao lado de meu pai, por mais que ele não falasse e não se mexesse eu sabia que ele sentia minha presença ali. No décimo primeiro dia, enquanto eu acariciava a mão do meu pai implorando para Deus por algum milagre, senti a mão dele segurar, logo fui tomada por alegria imensa, finalmente meu pai sairia daquela situação. Porém minha alegria foi embora quando aquele longo pib acabou com o silêncio da sala, logo em seguida a sala foi tomada por médicos e minha mãe me esperava com os braços apertos na frente daquela sala, eu corri em direção a ela e fui confortada por um forte abraço. Ela me contou como o papai chegou aquele estado, eu me lembro de todas as palavras que ela disse: “ele começou á beber um pouco todos os dias, mas com o tempo ele foi aumentando a dose, até que perdeu totalmente o controle e chegou a esse ponto, filha eu acho que ele não vai conseguir sair dessa” e tivemos a confirmação de seu falecimento logo depois, e fomos abandonadas naquele corredor com as frias palavras “fizemos tudo o que podíamos, mas ele não resistiu”. Mamãe me deu um beijo na testa, segurou minha mão e saiamos caminhando pelo corredor do hospital sabendo que a parti dali seriamos apenas ela e eu.
No dia seguinte foi o enterro de papai, eu não lembro de nada que ocorreu a minha volta, só de ter apoiado minha cabeça sobre o corpo dele e chorado muito, todas as cenas dele bêbado vieram em minha mente, todas as vezes que discutíamos, e o remorso tomou conta de meu corpo, me arrependi por cada palavra dita a ele de modo grosseiro, cada abraço que deixei de dar, cada momento que deixei de estar com ele, e diante da sepultura dele, prometi a mim mesma que protegeria minha mãe de tudo, já que papai foi vencido pelo álcool e não foi capaz de cumprir a promessa feita a nós.
                                                                                    - paulagrando

2 comentários:

  1. CARA!
    Sem palavras pra esse texto...

    Tô tendo que conter minhas lágrimas.

    Conseguisse passar todo o sentimento que sentes sobre o assunto nesse texto.
    Muito bom esse texto.

    Gostaria de parabeniza-la pelo texto, mas não posso parabenizar por causa dessa triste história...

    O que posso fazer é lhe oferecer meu apoio sempre que precisar.

    Que o Arquiteto ilumine sua vida.
    Bjs;***

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